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domingo, 23 de março de 2014
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Loucos tantos quanto eu
Em meio a um pátio, em um manicômio
qualquer deste mundo, um dos loucos que mais se parece com uma figura de médico
qualquer, tenta encontrar a definição do que é a loucura. É assim que começa a
peça Louco é Tu do Grupo Espírita de Teatro Leopoldo Machado. E é essa
tentativa de definição que abordamos um pouco aqui.
Loucura, ou melhor, transtorno mental é uma
condição muito próxima da mediunidade. Um grande livro que tenta desvendar os
nossos pecados contra a loucura se chama “A história da loucura”, de Michel
Foucault. A tese principal, baseada no fato social do louco da vila – aquele
doidinho que ainda hoje encontramos nas cidades rurais que passa por
inofensivo, conquanto que ninguém o agrida, e que aqui e acolá alguém lhe dá
guarida – é de que a Idade Média foi muito mais benévolo com os seus loucos do
que a Idade Moderna. Lá, na sociedade feudal, os loucos não eram asilados,
viviam em meio aos “normais”.
A Idade Moderna, ao contrário, inventou,
segundo o que pensa Foucault, de ver o louco como um doente e de tentar separar
aquele que perdara a razão daqueles que ainda a conservavam.
O que nos passa despercebido é que a
sociedade feudal era uma sociedade cheia de estamentos sociais, com mentalidade
de hierarquia. Havia os aristocratas senhores de grandes terras e os sucessivos
vassalos inferiores até chegar aos miseráveis plebeus. Sem contar a Grande Mãe Igreja, que ocupava
um lugar todo especial. Em outras palavras, naquele mundo, cada um tinha seu território que o impregnava e dava sua identidade perpétua. O louco da vila
era qualitativamente diferente de todos os que não eram loucos. Ainda que
perambulasse entre os demais, a possibilidade de contaminação era nula.
O que a modernidade provoca nessa estrutura
é uma ruptura profunda não só dessa mentalidade, mas da própria sociedade.
Saímos de uma sociedade estática para uma dinâmica em que as pessoas passam a
ser consideradas potencialmente iguais e, portanto, passíveis de ascender a ou
descender de níveis sociais. Freud entra nesse jogo, rompendo com a segurança
daqueles que se consideravam imunes à loucura. Quando ele revela sua teoria
sobre o quanto somos mais ou menos loucos, o quanto uma neurose pode ser um
passo para a psicose, o louco, por um lado, passa a ser temido, por outro,
passa a ser sujeito passível de cura. Os asilos, portanto, não são apenas
prisões, mas lugares em que a utopia do retorno à normalidade foi cultivada
intensamente por aqueles que os queriam de volta, isto é, os que muito o
amavam.
A tolerância que se tinha aos loucos na Idade Média não era mais que uma tolerância aparente, na medida em que reinava
a crença da sua inofensiva, porque radical, diferença. Na Idade Moderna ele é
um de nós. Ele é você, sou eu.
Essa pergunta que o personagem da peça
inicia fazendo, é a pergunta freudiana por excelência: “onde está o limiar
entre a sanidade e o equilíbrio mental?”.
Esta outra que se segue é o desnudamento perfeito de nossa
pseudo-benevolência anterior: “Onde esconder o medo brutal de cada um de nós em
deixar vir à tona o desequilíbrio que nos cerca?”. E, assim, ele vai trazendo a
plateia para uma verdade ainda muito incômoda para todos nós, em que os risos
revelam a vontade de distância que temos dessa realidade que este maluco
personagem grita: “E eles dizem que estou louco. Louco, eu? Louco é tu!”
Na próxima postagem, sigo o caminho dessa
mesma reflexão, mas avaliando o nosso comportamento diante da mediunidade. É
assustadora a semelhança!
domingo, 5 de janeiro de 2014
Para os filhos dos filhos do LEMA
Este ano o LEMA completa 25 anos. Parece que foi ontem. Mas, não foi. Vinte e cinco anos pode ser pouco para um ser humano, mas para um cachorro, por exemplo, é tempo de vida demais. Quiçá para um grupo de teatro que, em virtude de mil percalços contemporâneos, raros são os que conseguem manter viva a chama da tradição, com medo de perder a liberdade da criação, da expressão, da ação.
Mas, não foi assim com o LEMA. Atores profissionais podem até se inquietar com essa ideia de fazer um arte engajada. Não compartilhamos dessa inquietação. Esse, aliás, é o nosso lema! Vinte cinco anos bem empregados, investidos, suados, conquistados. Entre dramas e comédias, para público adulto ou infantil, dentro do grupo e fora do grupo, separação e retorno, demos até pra gravar CDs com histórias contadas e defender dissertação de mestrado sobre nosso trabalho.
O fato, tenho dito, é que o LEMA completa este ano suas bodas de prata. Vamos comemorar em grande estilo. Teremos:
- A reprise de "Louco é Tu", que, também, está aniversariando este ano;
- A inauguração da peça "O Circo Quase Perfeito";
- Remontagem de Chico Xavier, a mão dos imortais com o Grupo AME cantando ao vivo;
- E a turbinada nesse nosso blog.
Foi por isso que coloquei aquele fotinha ali no início. É que, junto com esse ano especial, demos por nós que estamos cercados de bebês de novos e velhos integrantes. E vem vindo mais! Alguns nem poderão se apresentar porque ou estarão grávidos ou estarão com filhos pequenos para cuidar. E nos veio um chamado muito forte da espiritualidade. Precisamos começar a preparar os caminhos para que eles nos substituam. Se nada do que fizemos estiver escrito em algum lugar, sempre estaremos fadados a reencarnar e começar tudo do zero, sem saber o que nossas personalidades anteriores conquistaram, a não ser pelas vias mediúnicas e da intuição, que não é pouca coisa, mas que pode ser muito melhor, se ao lado disso somarmos as memórias registradas dessa vida, nossas reflexões. Pra que reinventar a roda?
Nosso blog, portanto, neste ano de 2014 em diante, estará não só servindo de divulgação para os espetáculos nossos e afins como também sendo palco para reflexões sobre nossa prática.
Que seja um ano abençoado!
Contamos com a presença de todos vocês!
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